Texto coletivo do 7ºC, enviado para o concurso "Uma aventura literária", Caminho
Aquela noite, naquele final de outono,
surgiu insuportável e medonha. Os ventos varriam os telhados, os raios
interrompiam a escuridão, os trovões impediam o sono das pessoas e as chuvas
lavavam tudo à sua volta.
No céu negro, até a lua se tinha
recolhido para se abrigar da tempestade. Nada se vislumbrava. Só trevas. E
medo, muito medo.
Quando, de repente, uma luz apareceu a
piscar.
Eu estava sentada na minha cama, receando
a escuridão. Olhei pela janela e vi a estrela a brilhar, lá bem no alto.
Aquela estrela parecia que queria
entregar-me uma mensagem ou guiar-me. Foi então que eu vesti a primeira peça de
roupa que me veio à mão, saí do quarto em bicos de pés, para não acordar os
meus pais que estavam no quarto ao lado.
Cheguei ao jardim e os meus dentes
bateram como castanholas.
Sem hesitar, fui atrás da luz. Apesar do
frio que se fazia sentir, e do vento que me arrastou para ali, cheguei a um
local que bem conhecia. Aquela luz, surgida do nada, conduzira-me à Biblioteca
Municipal.
Nem sabia por onde entrar! Pela porta
principal? Pela porta de emergência? Ou por uma janela? Não sabia. Só sabia que
algo me impelia a entrar. E não era a tempestade!
Optei pela entrada mais fácil: a porta
principal. Mas, não estava à espera que fosse assim tão fácil! Empurrei-a e
fiquei impressionada pois a porta estava apenas encostada. Então, pensei:
- Será que deixaram a porta aberta? Não
me parece! Mas vou entrar na mesma, quem não arrisca não petisca.
Entrei na biblioteca, ouvia-se um
silêncio assustador. Entretanto, um estrondo ecoou e parecia-me vir da sala
principal onde vivem todos os livros que me têm preenchido a imaginação.
O meu coração disparou mas sabia que
naquele local enfeitiçado nada tinha a temer. Estavam ali todos os heróis das
histórias. Então, caminhei corajosamente.
Mas, onde estaria
aquela estrela que tanto me encorajou?
Tinha medo de espreitar, não sabia o que
me esperava.
Oh, meu deus!!! Não acreditava no que estava a ver! Na
sala principal, onde normalmente reinava o silêncio, um barulho enorme atroava
os ares, como se todas as crianças da escola estivessem no recreio.
Havia livros caídos no chão por todo o
lado. De repente, mais livros começaram a cair e deles saíam muitas
personagens. E a sala, sem luz elétrica, iluminou-se com um brilho tão forte
como se o sol lá tivesse ido dormir. Imensos pirilampos acabavam de escapar da
sua história e brilhavam intensamente, agradecendo a liberdade inesperada.
Eu queria entrar mas… Se aqueles seres se
escondessem quando me vissem? Eles pareciam tão animados, parecia que tinham
estado o dia inteiro à espera que este momento chegasse para contarem as suas
aventuras uns aos outros. Parecia, até, que os armários, leves, aproveitavam
para dançar o resto da noite sem se preocuparem com os livros que caíam.
Decidi aproximar-me. O Pinóquio gritou:
- Escondam-se!
- Calma, calma. Aquela estrela –
disse-lhes eu, apontando para o céu - guiou-me até aqui. Não vos quero fazer
mal!
Pouco a pouco, começaram a juntar-se a
mim a Alice do País das Maravilhas, o Peter Pan, o Harry Potter, a Ariel, o
Ulisses, o Principezinho, o gato Zorbas, a Anne Frank, o Cavaleiro da
Dinamarca…
Alice foi a primeira a reagir, aproximou-se
de mim e convidou-me:
-
Vem comigo tomar um chá e conhecer o chapeleiro maluco.
- Não! Vem antes comigo sobrevoar a Terra
do Nunca e verás como é bom ficar sempre criança - disse o Peter Pan.
- Porque não vens comigo explorar o mar?
Vem ouvir a música das ondas, vem apreciar o arco-íris dos corais e dos peixes,
vem mergulhar na serenidade das águas frescas e transparentes do meu reino -
contrapôs Ariel.
- Sim, vem comigo e ao conduzo-te ao reino
da Ariel. Vais conhecer as sereias mas, atenção, não te deixes enfeitiçar!...-
aconselhou o Ulisses.
-
Para enfeitiçar estou cá eu! – ripostou Harry Potter. - Com o meu manto da
invisibilidade, poderás ir aonde quiseres!
Os convites sucederam-se e eu olhava para
todos sem saber o que pensar.
- Nem acredito que estais aqui comigo.
Tenho vivido a minha vida a sonhar com todos! Embarquei e fui marinheira,
aventureira, pirata, mágica, fada, feiticeira... Convosco voei e perdi-me num
mundo encantado. Conheci a amizade e a coragem. Nem dormia! Ficava na minha
cama, de olhos abertos, à espera da próxima aventura. E imaginava que era eu a
viver cada uma delas. Por isso, já não preciso de vos acompanhar. Já fui. Sou
uma devoradora de livros.
Entretanto, a manhã acordou mais calma e
um atrevido raio de sol tentava furar as grossas nuvens que ainda cobriam o
céu. Acordei estremunhada e não entendi por que motivo a janela do meu quarto
estava aberta e todos os livros da minha estante tinham caído e se encontravam
no chão.
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