Vós que vos ides por ganância
Debaixo da capa do cruzadoBuscando no incerto e na distância
A mina delirante do El Dourado
Vós que deixais só na retaguarda
Um farto gineceu desamparado
Não sentis testa que vos arda
Durante o sono repousante do soldado
Ouvi este ledo trovador
Por feitos de além-mar pouco tentado
Não se deixa uma esposa sem amor
Com o trevo da mocidade eriçado
E vê-las no poleiro das janelas
Gastando seus furores em vãs intrigas
É vê-las nas ribeiras com as barrelas
Contando o que só Deus sabe às amigas
Quanta malícia mal ardida
Tangem seus olhares pelas esquinas
Soubésseis os sorrisos de fugida
Que delas merecem minhas rimas
E víeis que melhor que a riqueza
É ter alguém à noite na cama
Que o diga a presunçosa e vã nobreza
Que goza a especiaria ao pé da dama
Por isso se as testas vos arderem
No lume verrinoso do adultério
Às línguas viperinas que vierem
Dizei que ardem pela grandeza do império
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Ver também Inoportuna - Vilancete castelhano de Gil Vicente (aqui)
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